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Diogo Aguiar, 30 anos, Arquitecto, LIKEarchitects

Diogo Aguiar

30 anos
Arquitecto

A prática profissional dos LIKEarchitects (colectivo inicialmente fundado por mim e pela Teresa Otto e que desde há um ano conta também com o João Jesus) teve um arranque decisivo quando vencemos o concurso para a realização do bar da associação de estudantes da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto para a queima das fitas do ano de 2008. Trata-se de um concurso promovido pela associação de estudantes para os alunos testarem as suas ideias e que, ao contrário da última edição, que recebeu mais de cinquenta propostas e na qual fomos júri, era relativamente desconsiderado e que tinha poucos concorrentes.

O objectivo era o de trabalhar um conceito eficaz, simples, de construção rápida e com um orçamento limitado. Criámos um sistema modular feito de caixas de armazenamento em polipropileno que transformámos em cubos luminosos, baseado na ideia de “faça você mesmo”. Desde sempre nos interessam estes projectos mais pequenos em que é possível experimentar conceitos e materiais de forma original e, neste sentido, este concurso surgiu no momento ideal, não só porque estávamos no último ano da faculdade, e como tal envolvidos numa vertente mais teórica da arquitectura por causa da dissertação do final da licenciatura, mas também porque tínhamos acabado de regressar de experiências profissionais fora do país – no meu caso nos UNStudio, em Amesterdão, Holanda, e no caso da Teresa Otto nos RCR Arquitectes, em Olot, Espanha – em que vínhamos de uma prática diária de projecto, e, como tal, ansiosos por voltar a projectar.

A experiência deste bar temporário veio a repercutir-se no nosso trabalho subsequente através de formas de pensar os problemas arquitectónicos que nos são colocados por vezes no limite do conceito, com um tempo muito curto para executar, com um orçamento limitado e com a necessidade de ideias criativas e eficazes. Muitos dos trabalhos que concretizámos até hoje caracterizam-se por uma materialidade ready-made, que constrói espaço a partir de objectos existentes, procurando no mercado os materiais que melhor respondem às características por nós previamente definidas, favorecendo a criação de uma estética improvável, desconhecida à partida.

O segundo projecto que construímos, e que explorou algumas das técnicas de concepção digital, foi uma instalação que fizemos sobre uma paragem de autocarro do Largo dos Lóios, no Porto, um concurso que ganhámos onde tínhamos como cliente a Agência para o Desenvolvimento das Indústrias Criativas (2010). Essa instalação, que se debruça sobre o desenho urbano do centro histórico da cidade, procura (re)pensar a interacção que as pessoas estabelecem com o equipamento urbano, através da adição de um novo elemento que estende o espaço disponível para sentar os passageiros que estão à espera de autocarro, (re)criando uma estranha harmonia entre um objecto tradicional e outro que parece não pertencer ali, ao mesmo tempo que centra em si todas as atenções.

Na sequência destes trabalhos, recebemos um convite do México, para leccionarmos um workshop de estruturas efémeras na Universidade CEDIM, em Monterey, o que nos obrigou a aprofundar e a sistematizar o conhecimento que tínhamos sobre a realização de projectos temporários, pequenos e experimentais.

Posso dizer que é precisamente por termos um portfólio com projectos deste tipo, diferenciadores, que hoje temos clientes que nos procuram, tendo em vista soluções menos tradicionais e menos convencionais na sua formalização, para resolverem os seus problemas e se afirmarem no mercado de um modo distinto.

Muitas vezes, uma grande parte do trabalho dos arquitectos é convencer os seus clientes. Fruto dos trabalhos que fomos executando, e de uma grande identificação das pessoas com o nosso trabalho, os clientes vêm ter connosco à procura de uma solução diferenciadora e experimental, com a qual já somos identificados. Por isso acreditamos que, no nosso caso, essa relação está facilitada à partida. Fazemos aquilo de que gostamos, o que nos motiva de um modo quase obsessivo, e também é disso que os clientes vêm à procura: de uma grande dedicação criativa.

Estarmos inseridos numa incubadora de empresas (o Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto no pólo das Indústrias Criativas) tem-nos proporcionado uma experiência importante de relacionamento com áreas de gestão, marketing e economia, através de múltiplas formações e discussões com peritos na matéria empresarial.

Lembro-me que no início destas formações, surgia muitas vezes a questão pragmática da necessidade da definição de um cliente-tipo e de uma área de actuação bem limitada. Imagine-se, por exemplo: se nós nos especializássemos apenas no desenho de hospitais, tal permitiria que, eventualmente, nos apresentássemos mais facilmente ao mercado. Ao contrário do que pensávamos, o nosso campo de actuação – balizado na arquitectura efémera para o espaço público – era entendido como sendo demasiado vago e pouco definido. Assim, quando optámos por manter a abordagem mais ampla, estávamos conscientes que um jovem ateliê de arquitectura que dá respostas em vários sentidos dificilmente é reconhecido por fazer algo diferenciador e especializado. Mas, como todos os arquitectos, nós também gostamos de estar envolvidos com as várias áreas do projecto, desde o planeamento do território até ao mais ínfimo detalhe de um objecto e, por isso, a nossa forma de estar não poderia ser diferente.

Actualmente, uma grande parte dos projectos que realizamos são efémeros. Trabalhar o efémero tem-nos permitido ser mais experimentais, tanto no lado conceptual como material do projecto. Procuramos tirar partido da curta duração das intervenções que propomos para levarmos alguns conceitos ao limite, explorando, por exemplo, a fragilidade de certos materiais ou desafiantes conceitos estruturais. Assumindo o efémero como uma oportunidade para testar, errar mas também conquistar, apelando a uma arquitectura mais participada, participativa e inclusiva, conduzida pela interacção com as pessoas, defendemos a reactivação do espaço público através de soluções temporárias, de baixo custo, mas com alto impacto nas pessoas e nos seus modos de habitar. Trata-se de ideias simples, apreensíveis, e fáceis de implementar que se materializam em pertinentes manipulações urbanas que convidam à reflexão conjunta sobre a real utilização do espaço público. Assim, defendemos uma cidade dinâmica e (pró) activa, capaz de surpreender e cativar os seus habitantes, servindo-se do humor e da subversão como estratégia projectual.

Dou o exemplo do projecto Fountain Hacks, vencedor do concurso Performance Architecture comissariado por Pedro Gadanho, que desenvolvemos com Ricardo Dourado para Guimarães 2012 – capital europeia da cultura. Tratou-se de um projecto de reprogramação de fontes de água públicas que estabeleceu um novo roteiro cultural na cidade. Através de incisivas alterações nestes espaços, formalizados pela colocação de pequenos e coloridos objectos – cadeiras, mesas, colchões, bóias, escadas – atribuímos novos usos a estes monumentos aquáticos, levantando publicamente a questão sobre o uso real e descomplexado do espaço público vimaranense. Com uma certa ironia, fomos dando temas às fontes, conseguindo vivências mais impactantes. Esta instalação arquitectónica, ou performance artística, que insuflou uma nova vida aos pontos de água, levou os cidadãos e turistas a repensarem estes espaços – alguns tinham-se tornado em não-lugares – e a forma de os ocupar. Não era estranho, durante o período em que fizemos a nossa instalação, ver uma pessoa ler o jornal no meio da água, em pleno eixo viário. Ninguém podia ficar indiferente.

Temos vindo a perceber que a nossa prática está realmente entre a arte e a arquitectura, mas também que tudo o que fazemos procura uma consequência espacial, uma pertinência conceptual, e está sempre muito relacionado com a vida quotidiana dos utilizadores do espaço público, independentemente do tipo de cliente para que trabalhamos.

Recentemente concluímos uma instalação – LEDscape – com 1200 pontos de luz no CCB para a IKEA que recorreu à luz como construtor espacial e que é finalista dos prémios FAD 2013. Independentemente de a nossa obra estar associada a uma operação de marketing e publicidade, procurámos acima de tudo promover momentos de reflexão sobre a importância da tecnologia LED para um futuro mais sustentável, através de uma experiência interactiva que desmistificava ideias preconcebidas sobre este tipo de iluminação de baixo consumo, em que o ganho é realmente de todos.

Há uma pertinência, ainda que impertinente, em contextualizar, por outras formas, o espaço urbano. Construir espaço sem erguer edifícios é o desafio a que nos propomos ainda mais, face à actual conjuntura económica. Porque não consideramos que a edificação tradicional seja necessariamente mais válida do que a arquitectura que estamos a fazer e porque a efemeridade pode conferir a um espaço uma assertividade crítica muito mais eficaz do que se este fosse perene.

E, à medida que o tempo passa, vamos concluindo que não temos “ainda” um cliente-tipo: tanto trabalhamos para grandes empresas como para clientes individuais mas também respondemos a concursos ou vamos estando envolvidos em causas mais sociais e próximas de comunidades desfavorecidas, sobretudo através da prática de workshops.

Diogo Aguiar participou na Mostra #2 (20 de novembro de 2012) da temporada 3, no Kaffeehaus, em Lisboa.

Sabemos, contudo, aproveitar cada vez melhor as oportunidades para fazermos aquilo que de gostamos, mesmo que ainda só saibamos defini-lo de um único modo claro e fechado: arquitectura.
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