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Rui Coelho, 50 anos, Gestor, director executivo Invest Lisboa

Rui Coelho

50 anos
Gestor

Lisboa é um excelente local para se empreender. Quero dizer, ser empreendedor a partir daqui e a partir daqui trabalhar para o exterior. Há 500 milhões de pessoas na União Europeia (mercado comum) e mais 250 milhões nos países de língua portuguesa, e todos eles são um mercado natural para quem trabalha a partir de Lisboa. Em Lisboa temos muitos talentos, custos baixos, excelentes infra-estruturas, óptima segurança e acesso a grandes mercados como já vimos, ou seja, tudo o que é preciso para ter sucesso nos negócios. Para além de inúmeras possibilidades de lazer.

É impossível criar um negócio e ter sucesso sozinho, isso são mitos e portanto é extremamente importante criar equipas com outras pessoas talentosas com competências que nós não possuímos. Não falo especificamente do caso dos arquitectos, todos os profissionais necessitam de reunir conhecimentos que não tenha, designadamente de gestão, marketing ou contabilidade por exemplo. Os arquitectos não têm necessariamente que saber promover-se e vender os seus serviços mas precisam de quem saiba. Não sei se não haverá muitos pequenos ateliês que podiam agregar-se, estou a pensar nos advogados que fazem isso – as grandes sociedades de advocacia. Quantos são os grandes ateliês de arquitectura em Portugal, com várias dezenas de arquitectos e equipas de gestores e com capacidade para se promoverem internacionalmente? Houve alguém que me chamou a atenção para essa questão e penso que faz algum sentido. Falo de hipóteses e não de certezas, pois não acredito em soluções mágicas e iguais para todos os sectores, situações e pessoas. Interessa-me mais lançar pistas, cada um que pense e chegue às suas próprias conclusões.

Se me perguntar se os arquitectos devem ser generalistas, dir-lhe-ia que não: talvez se devam especializar numa determinada área (nicho de mercado) pela qual têm mais apetência e mais conhecimentos. A partir daí podem aperfeiçoar-se cada vez mais, perceber exactamente quem são os seus clientes potenciais, saber tudo sobre esse nicho de mercado, criar um portfólio, serem até considerados os melhores, tornarem-se referências internacionais. Quando digo ser os melhores, quero dizer isso mesmo e depois também é preciso saberem promover-se. A arquitectura é um negócio como qualquer outro. Sei que existe uma percepção em relação à arquitectura como arte ou aquelas correntes muito preocupadas com as questões sociais e não com a rendibilidade dos ateliês, há certamente lugar para essas atitudes, e grandes referências que são assim, tudo bem, mas talvez fosse bom que os arquitectos encarassem a sua profissão como um negócio. Onde se pagam ordenados e impostos e importa ter lucros para investir em melhores equipamentos, promoção, aprendizagem e na criação de mais postos de trabalho. A lógica nos países anglo-saxónicos é a de estimular os empresários a ganharem muito dinheiro, e depois, para além de pagarem os respectivos impostos, devolver uma parte à sociedade, através de doações às universidades, hospitais, museus, ou investigação de curas para doenças, mas primeiro é preciso ganhar dinheiro e é isso que é incentivado e admirado, talvez devêssemos ser um pouco mais assim por cá. Considero que a ambição joga um papel importantíssimo em todo este processo. Não tem mal nenhum querer conquistar o mundo, desde que de forma honesta, é mesmo assim que o mundo avança nas mais diversas áreas e nos negócios também. E, para isso, temos de começar por definir um nicho, uma especialização e ela deve assentar na resolução de um problema que a sociedade está a enfrentar, o que poderá ser oferecer melhores condições de habitação a menores custos, por exemplo... senão, não se vai ter sucesso. Só se vende o que as pessoas querem comprar porque lhes resolve um problema.

Controlar os custos é também essencial. A história das grandes empresas que começaram na garagem não é mentira. É começar num local sem, ou quase sem, custos. É necessário baixar os investimentos e os riscos iniciais. Volto a frisar que não falo de verdades absolutas e que as coisas mudam. Quando se começar a ter resultados, devem alargar-se as perspectivas.

Nenhuma actividade se suporta sem um modelo de negócios e um plano de negócios, o que não quer dizer que sejam estáticos. As pessoas sentam-se, reflectem sobre o que querem fazer, que mercados alcançar. O plano tem de ir sendo ajustado às condicionantes que encontra. O que estou a dizer é que é essencial ter um documento escrito com as nossas ideias e algumas contas simples: é isto que queremos fazer e portanto precisamos destes recursos, onde estão e quanto custam, etc., etc.. Quanto custa ir a uma feira onde vou encontrar os meus potenciais clientes? Claro que há muita gente desempregada e muitos são altamente competentes. Não será possível juntar algumas dessas competências e ter sucesso? Tenho a certeza que sim e é isso que é preciso fazer cada vez mais.

A quem recorrer para obter apoio para montar um negócio? Hoje há inúmeras instituições que apoiam a diferentes níveis, basta ir ao site da Rede de Incubadoras de Lisboa e há lá a informação e contactos de todas as organizações e recursos disponíveis. Se tem interesse em instalar o seu negócio em Lisboa também nos pode consultar. O quero dizer é que não faltam meios e nichos de mercado, há lugar para quase tudo e é por isso que digo que talvez seja aconselhável partir do que se gosta de fazer para uma possibilidade de negócio.

Depois, há que testar a viabilidade do negócio, uma e outra vezes. Testar, voltar a testar. Talvez eu queira reabilitar edifícios do século XIX? Posso pensar que a minha ideia é óptima mas como saber sem a testar? As pessoas querem o que eu entendo que devo fazer e estão disponíveis para comprar pelos preços a que eu quero vender? Senão, é preciso mudar alguma coisa na equação. Testar é saber se há alguém que compre. Também neste caso, a Internet veio facilitar imenso (promoção, comunicação à distância, teste das ideias, encontro de parceiros, trabalhar a partir do local em que se vive, etc.). Posso fazer um sítio na Internet e explicar ao que venho, divulgo e testo para saber se e qual a receptividade que a minha ideia, serviço ou produto têm e até posso encontrar financiamento, designadamente através do crowdfunding (financiamento colaborativo), uma diversificação das formas de financiamento.

O financiamento colaborativo parte de algumas questões de que falei: você tem uma ideia, quer divulgá-la e quer implementá-la, perceber o seu impacto – testar o mercado – e pede um pequeno apoio através da Internet que, multiplicado por muita gente, pode permitir-lhe financiá-la e construir uma comunidade em torno dela.

É absolutamente vital falar muito com os potenciais clientes. Por outro lado, e espero que não soe contraditório, vale mais um cliente ganho do que um excelente plano de negócios. Um plano de negócios mostra que eu tenho um pensamento estruturado: sei para onde quero ir. Um cliente mostra que a minha ideia é exequível: já convenci, no bom sentido da palavra, alguém, já pude estabelecer essa conexão entre uma ideia e a sua concretização. É melhor do que uma ideia porque é um teste de mercado.

Vou falar de flexibilidade e espero que não haja preconceitos com a palavra. Até que ponto devo persistir num modelo de negócio? É preciso estar disponível para perceber. Acredito firmemente que os momentos de crise são simultaneamente os de maiores oportunidades. No 25 de abril, lembro-me que o meu pai me disse: agora é que é tempo de investir, precisamente no meio de uma revolução, e tinha toda a razão, infelizmente não tinha nem dinheiro nem postura de empreendedor. A economia é isto [desenha uma onda com altos e baixos que se sucedem], sabemo-lo há muito. É claro que ninguém sabe quando vai começar a subir mas sabemos que não vamos estar sempre em baixo, nem sempre em cima. O truque é muito velho: comprar na baixa e vender na alta do mercado, mas muitos persistem em fazer o contrário. O que quero dizer é que podemos ser tolhidos pelo medo em vez de ver uma oportunidade. As empresas tiveram de virar-se para os mercados externos e nisso há flexibilidade e criatividade, estão também a aproveitar uma oportunidade, mas deveriam ter antecipado a baixa do mercado interno e como sempre houve umas que o fizeram...

Nunca foi tão fácil nem tão oportuno empreender, o que não quer dizer que não haja riscos e muitas dificuldades a ultrapassar, e se há um segredo é a colaboração: a criação de equipas talentosas e empenhadas. O resto é trabalho, muito trabalho.

Rui Coelho participou no Ciclo Conversas - Conversa II, sobre turismo profissional e de negócios (13 de dezembro de 2012), incluída na temporada 3, realizada no auditório da Ordem dos Arquitectos.

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