“A habitação uni-familiar continua a ser, de muito longe, a área de concepção mais importante dos arquitectos portugueses: cerca de 39% como área de actividade principal e mais 20% como segunda área, ou seja, perto de 60% dos arquitectos […]. A habitação pluri-familiar é a segunda a área de concepção a que mais se dedicam os arquitectos portugueses…”
Cabral, M. V. (coord.), Borges, V. (2006). Relatório Profissão: Arquitecto/a. Estudo promovido pela Ordem dos Arquitectos (pp. 71-72). Lisboa: Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
“Não sendo os regimes de apoio à aquisição de casa própria suficientes para viabilizar a compra por extractos significativos da população, ainda assim Portugal estará a produzir mais de 50 000 habitações/ano, superior ao número de novas famílias, destinado portanto a segunda habitação ou constituindo uma reserva “especulativa”, apesar de um deficit acumulado não satisfeito por esta oferta (calculado na década de 60 em mais de meio milhão de habitações) correspondente à população insolvente, isto é a que não encontra um mecanismo público de apoio eficaz para atingir os níveis de preço disponíveis na oferta.”
Brandão, P. (2006). O arquitecto e outras imperfeições. Ética, identidade e prospectiva da profissão (p. 118). Lisboa: Livros Horizonte.
“[…] fica claro que o bem-estar material e simbólico constitui a principal dimensão da identidade dos arquitectos, mas a sua associação não deixa de ser problemática. Com efeito, enquanto as condições de exercício profissional são avaliadas negativamente pela grande maioria, já as gratificações simbólicas da realização vocacional são avaliadas de forma muito positiva.”
Cabral, M. V. (coord.), Borges, V. (2006). Relatório Profissão: Arquitecto/a. Estudo promovido pela Ordem dos Arquitectos (p. 88). Lisboa: Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
“Em nenhum dos outros campos de actuação possível (Urbanismo, Design e Arquitectura de interiores, Restauro e Conservação, Consultoria, Manutenção) existe qualquer reserva de exclusividade em qualquer país europeu. A fragilidade do “monopólio” tem sido um obstáculo ao progresso da profissão na Europa? A verdade é que a profissão tem conseguido afirmar a sua indispensabilidade em parte considerável das actividades da construção e do Urbanismo e até do Design, em países em que o seu exercício não é “protegido” legalmente. [Em nota de rodapé: Não é indiferente a essa realidade o diferente papel que tem o Estado na regulação das actividades, nos países anglo-saxónicos em relação aos países latinos. Nos países anglo-saxónicos onde não existe qualquer forma de “monopólio” por via legal, uma percentagem entre 50 e 80 do total das licenças de construção (dados indicativos do RIBA) serão subscritas por arquitectos. Já nos países latinos, não há dúvida que os países mais frágeis na parcela de mercado sob domínio profissional do arquitecto (Portugal, Grécia e Itália) são os que não têm um estímulo legal à utilização do arquitecto.]”
Brandão, P. (2006). O arquitecto e outras imperfeições. Ética, identidade e prospectiva da profissão (p.180). Lisboa: Livros Horizonte.
“Depois de uma abertura histórica ao investimento na obra pública qualificada e depois de um crescimento do número de concursos públicos a partir do princípio dos anos 90, esta tendência inverteu-se a partir dos finais dos anos 90. A inversão ocorreu, aparentemente, quando os sectores mais instalados do campo arquitectónico se aperceberam de que a distribuição da encomenda através dos concursos favorecia os recém-chegados ao campo. Basicamente, aquele breve período foi o que permitiu que se afirmasse e tornasse visível a última geração de ‘jovens arquitectos’ – que, em 2005, rondava já os 40 anos de idade. Os movimentos concertados que se seguiram fizeram predominar os concursos por convites e por curriculum que, como é óbvio, tendem a conservar em jogo os protagonistas já instalados. O deficit democrático adveio neste caso de uma classe profissional tipicamente canibalesca – algo que, não sendo apanágio do cenário português, foi agravado por uma grande pobreza de recursos. Deu-se assim uma sintonia entre o afunilamento da distribuição da encomenda e um movimento mediático paralelo que contribuía para a repetida reprodução dos valores já consagrados.”
Gadanho, P. (2010). Arquitectura em público (p. 291). Porto: Dafne Editora.
“À imagem social [dos arquitectos] está também ligada uma componente material igualmente negativa. Esta dimensão contribui para ilustrar de novo as tensões que atravessam a identidade profissional dos arquitectos. A componente com maior peso é a ideia de que “os cidadãos não sabem o que os arquitectos fazem”, partilhada por 79,5% dos inquiridos; segue-se a opinião segundo a qual “a sociedade vê a arquitectura como um luxo”, com a qual concordam 73,7%; depois, a percepção de que “os clientes não dão valor ao trabalho dos arquitectos”, sentimento partilhado por 76,8%; a seguir, a ideia de que “os engenheiros são considerados mais importantes do que os arquitectos”, com a qual concordam 70%; e finalmente, a ideia de que “o dinheiro que os arquitectos recebem pelo seu trabalho não paga as despesas”, subscrita por 51%.”
Cabral, M. V. (coord.), Borges, V. (2006). Relatório Profissão: Arquitecto/a. Estudo promovido pela Ordem dos Arquitectos (pp. 89-90). Lisboa: Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
Na Europa “cerca de um quarto dos arquitectos (24 por cento) exercem a profissão a tempo inteiro desde há 25 anos ou mais. 22 por cento exercem-na desde há 15 a 24 anos. Cerca de metade dos profissionais exerce desde há 15 ou mais anos. 19 por cento dos arquitectos exercem-na desde há 5 ou menos anos. […] A proporção de arquitectos que exerce há 5 ou menos anos regista-se em Portugal (35 por cento), na Turquia (31 por cento), em Malta (31 por cento) e na Grécia (30 por cento).” [25 países considerados]
Conseil des Architectes d’ Europe; Mirza & Nacey Research (2012). La profession d’ architecte en Europe 2012. Une étude du secteur commandité par le Conseil des Architectes d’ Europe (versão em língua francesa) (p. 20). Bruxelas; Ford, Arundel: Autor.
“Hoje, está em crise a ideia de que o profissional terá um ‘mandato’, dado por um cliente não preparado, e que esse mandato lhe conferirá poderes para decidir no que respeita a um interesse próprio, que não é o seu mas sim o do cliente. […] Ao profissional é agora pedida uma prestação, um serviço como outros e mesmo quando se lhe reconhece uma competência de coordenação, isso não implica para o cliente nenhuma inibição de acção. […] Se já não é um profissional isolado, na sua relação com os outros a ‘aura’ de autoridade do arquitecto é muitas vezes insuficiente para um estatuto de ‘chefe de orquestra’.”
Brandão, P. (2006). O arquitecto e outras imperfeições. Ética, identidade e prospectiva da profissão (pp. 42-43). Lisboa: Livros Horizonte.
“As dificuldades do Licenciamento são origem de corrupção, ou tráfego [sic] de influências, de que o arquitecto frequentemente é participante, ou vítima. Obtida a licença, poucos factores legais obrigam o Dono da Obra a manter-se ligado ao autor do projecto, já que de pouco valem as prescrições do Código dos Direitos de Autor ou dos novos regimes de Licenciamento (legislação de 91, de 95 e de 98), quando o Autor não é obrigatoriamente responsável pela Direcção ou pela Fiscalização da Obra, tarefas desempenhadas por “frágeis” figuras como um “técnico responsável” ou um “fiscal da Câmara”. Assim, sucede frequentemente que, obtida a Licença, o arquitecto seja dispensado de elaborar o projecto de execução ou que os seus desenhos e detalhes não sejam respeitados na obra, sem que ele tenha uma real possibilidade de o impedir.”
Brandão, P. (2006). O arquitecto e outras imperfeições. Ética, identidade e prospectiva da profissão (p. 120). Lisboa: Livros Horizonte.
“[…] o factor género […] está indiscutivelmente presente no êxito das carreiras e joga, como já podíamos prever, contra as arquitectas e a favor dos arquitectos. Basta pensar na sua concentração nas modalidades assalariadas, apesar de os arquitectos que exercem a profissão da administração central e local beneficiarem de remunerações certas e comparativamente elevadas, para não falar da “prestação de serviços”. Peso idêntico ao factor género tem o facto de haver ou não trabalhado durante a licenciatura […], o qual joga também contra as mulheres, pois já sabíamos que o trabalho durante a licenciatura tem uma relação virtuosa com a entrada na carreira e, pelos vistos, também no seu êxito, devido possivelmente não só à aprendizagem mas também às redes estabelecidas.”
Cabral, M. V. (coord.), Borges, V. (2006). Relatório Profissão: Arquitecto/a. Estudo promovido pela Ordem dos Arquitectos (p. 103). Lisboa: Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
“Os resultados do inquérito – como dos inquéritos precedentes – revelam uma diferença grande entre os rendimentos auferidos por homens e por mulheres. Os rendimentos médios ajustados ao índice de paridade do poder de compra* registam que os arquitectos auferem mais 43 por cento do que as arquitectas que trabalham a tempo inteiro. Quanto aos profissionais a tempo parcial, os homens recebem, em média, mais 32 por cento do que as mulheres.” [25 países considerados]
Conseil des Architectes d’ Europe; Mirza & Nacey Research (2012). La profession d’ architecte en Europe 2012. Une étude du secteur commandité par le Conseil des Architectes d’ Europe (versão em língua francesa) (p. 57). Bruxelas; Ford, Arundel: Autor.
* Paridades do poder de compra (Purchaising Power Parities) são as taxas de câmbio de diferentes moedas que permitem harmonizar o poder de compra relativo a diferentes moedas através da eliminação das diferenças nos níveis de preços em diferentes países. Na sua forma mais simples as paridades de poder de compra são simples preços relativos que mostram o rácio dos preços nas moedas nacionais para o mesmo bem ou serviço em diferentes países (OCDE).