“A Arquitectura na Europa não está em perda, antes expande-se e ganha território: Realiza operações de ponta marcando simbolicamente a Cidade (o projecto urbano) e torna--se imprescindível à obra corrente; ganha lugar no discurso Cívico, no discurso Mediático, e no discurso Político; toma acento no Planeamento, no Urbanismo e na organização local das populações, no ensino e na comunicação social. Os arquitectos estão na defesa do Ambiente, do Património, da Utilização Racional da Energia, das Novas Tecnologias, na discussão da Marginalidade Urbana, em todos os temas decisivos da nossa época. A Arquitectura na Europa é uma Arte Maior da nossa época (e talvez um dia ela assim se reconheça). (…) Nunca a Arquitectura foi tão imprescindível na Europa. É porque hoje a Arquitectura já não diz respeito apenas aos arquitectos e porque os seus destinatários são hoje mais críticos e esclarecidos, que o arquitecto é hoje mais imprescindível do que nunca na sociedade. O arquitecto na Europa não é uma espécie acossada, pelo contrário é um profissional interactivo com o seu contexto, a um nível muito mais elevado, comparativamente com o das outras profissões e o de outros momentos históricos.”
Brandão, P. (2006). O arquitecto e outras imperfeições. Ética, identidade e prospectiva da profissão (p. 199). Lisboa: Livros Horizonte.
“Foi através dos media de massa que alguns investidores se aperceberam da cotação, do retorno e da posição simbólica de um determinado arquitecto e procuraram conquistá-lo para os seus empreendimentos mais visíveis. Foi através dos media de massa que estudantes se aperceberam da celebridade e da excitação criativa que rodeava o mundo da arquitectura e decidiram ser arquitectos. Foi através dos media de massa que um colectivo tomou conhecimento da reputação e da projecção internacional de uma escola de arquitectura da cidade e reforçou o investimento na sua identidade regional e nacional. Foi através dos media de massa que alguém se apercebeu das imagens e ambientes que os arquitectos propõem e decidiu remodelar o seu apartamento com a ajuda do amigo do amigo. Foi através dos media de massa que uma mãe ou um pai divorciados descobriram que uma exposição de arquitectura podia ser um bom programa familiar de fim-de-semana. Foi ainda através dos media de massa que um arquitecto se apercebeu da lenta ascensão mediática do assunto arquitectura e decidiu pôr esse capital a funcionar em proveito da sua própria posição ou trajectória no campo arquitectónico.”
Gadanho, P. (2010). Arquitectura em público (pp. 219-220). Porto: Dafne Editora.
“Hoje há como que uma dinâmica centrífuga em que prevalece o desacordo entre os profissionais da arquitectura quanto a conceitos como por exemplo: qual é a especificidade da sua competência? Qual a extensão das suas missões? Quais os padrões de qualidade? E quais os critérios de julgamento da sua actividade? Este desacordo coloca-os à mercê de outros, em vez de impor uma concepção própria do que é o seu trabalho, clara e compreensível para todos.” [negrito do autor]
Brandão, P. (2006). O arquitecto e outras imperfeições. Ética, identidade e prospectiva da profissão (p. 43). Lisboa: Livros Horizonte.
“[…] as recompensas trazidas pela escolha de uma profissão artística resultam da natureza e da variedade das suas actividades. Concretamente, num universo como o da arquitectura, privilegia-se a autonomia, a aprendizagem do “eu”, a confrontação com aquilo que se consegue fazer (“as mãos não param de criar”…), a acumulação de diferentes competências, o saber reagir aos pedidos dos clientes, a capacidade de dar respostas inovadoras, não só do ponto de vista do produto como também dos métodos e tecnologias (por exemplo, algo como mostrar um estudo prévio ou um projecto base através da imagem).”
Cabral, M. V. (coord.), Borges, V. (2006). Relatório Profissão: Arquitecto/a. Estudo promovido pela Ordem dos Arquitectos (p. 42). Lisboa: Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
“Sujeita a uma forma de escrutínio que sempre existiu, mas nem sempre foi tão difundida, talvez a arquitectura já não possa apresentar-se envolta num manto de autonomia baseado na figura artística do criador que está, simultaneamente, ao lado e acima do corpo social. Por confortável que seja esse manto, a partir do momento em que a arquitectura aceita o protagonismo no palco social alargado, aceita também a imposição dessas novas formas de escrutínio que já não pertencem exclusivamente ao acordo interpares e ao domínio disciplinar restrito.”
Gadanho, P. (2010). Arquitectura em público (p. 262). Porto: Dafne Editora.
“…no plano da ‘ideologia profissional’, a realidade nossa contemporânea põe em causa os paradigmas que ainda ‘aprisionam’ a identidade profissional do arquitecto, num isolamento típico de um ‘Mandarinato’ auto-protector correspondendo ao que chamei o paradigma ‘profissional-liberal-tradicional’ da profissão de arquitecto, integrando: o paradigma unicitário da identidade histórica da profissão; o paradigma do solipsismo artístico; o paradigma proteccionista da regulação; o paradigma mediático do starsystem.”
Brandão, P. (2006). O arquitecto e outras imperfeições. Ética, identidade e prospectiva da profissão (pp. 19-20). Lisboa: Livros Horizonte.
“Podemos fazer a verificação de que a história da profissão de arquitecto revela as características de um grupo com persistente dificuldade de afirmação, sem o poder ou o consenso suficientes para se constituir como alternativa, no plano ético-cultural. Mas se a noção que ocorre, perante a evolução da profissão, é a de uma frequente crise, reflexo da persistência de uma marginalidade económica, social e cultural do estatuto profissional, também é verdade que podemos revelar como os arquitectos têm conseguido processar um certo tipo de adaptação ao seu contexto, e por vezes ganhar notoriedade, peso social, e até político, mesmo no caso português.”
Brandão, P. (2006). O arquitecto e outras imperfeições. Ética, identidade e prospectiva da profissão (p. 33). Lisboa: Livros Horizonte.
“Na polémica ainda hoje em aberto sobre as relações entre a profissão e o Estado, ressalta a interpretação da natureza destas relações no plano cultural, isto é, sobre a existência ou não de uma “Arquitectura Oficial” do regime do Estado Novo. Questão que se cruza com a do controle ideológico sobre a Arquitectura, nomeadamente através da imposição de características “nacionalistas” à expressão Arquitectónica e com a da resistência que os arquitectos lhe terão dado (…) ”. Pedro Vieira de Almeida “defende uma leitura mais “responsabilizadora” da profissão naquelas relações com o Estado, e adopta uma postura crítica em relação à própria validade da ideia de uma “Arquitectura de regime”. Consequentemente, distancia-se em relação aos êxitos do Congresso [de 1948] como oposição a um tal “estilo oficial”, referindo que já na década anterior à Exposição de 40 o grosso da encomenda pública era atribuído aos “arquitectos modernos” e que na Exposição foram convidados a participar “todos os arquitectos de nome da altura, incluindo aqueles que punham maiores resistências em relação ao regime e, ainda que sendo obviamente uma grandiosa manifestação de propaganda do Estado Novo, não houve que se saiba da parte dos Arquitectos nenhuma recusa”.
Brandão, P. (2006). O arquitecto e outras imperfeições. Ética, identidade e prospectiva da profissão (p. 78). Lisboa: Livros Horizonte.
“Os arquitectos foram convidados a pronunciar-se sobre a satisfação profissional em relação a 4 variáveis (carreira, salário, ambiente de trabalho e qualidade de vida) e numa escala de 0 (nada satisfeito) a 10 (muito satisfeito). A escolha da profissão recolhe as respostas de maior satisfação (7 na escala de 10). A satisfação relativamente à qualidade de vida e ao ambiente profissional (colegas, outros profissionais, instâncias públicas responsáveis pelo urbanismo) recolheram 5,6 e 5,7 na escala de 10. Quanto ao salário, a satisfação é de 4,3 em 10.” [25 países considerados]
Conseil des Architectes d’ Europe; Mirza & Nacey Research (2012). La profession d’ architecte en Europe 2012. Une étude du secteur commandité par le Conseil des Architectes d’ Europe (versão em língua francesa) (p. 63). Bruxelas; Ford, Arundel: Autor.
“Na fase das grandes civilizações agrárias da Antiguidade, aquela disputa [entre o arquitecto e o ‘dono de obra’] atinge o cerne da questão da autoria: na Mesopotâmia o templo de Lagash era explicado como tendo sido revelado ao rei Gudea em sonhos. A lenda contava que o rei guardava o segredo das suas medidas, que fora ele mesmo a estabelecer as dimensões e a iniciar os alicerces. Será daí que provém a ainda sobrevivente cerimónia do lançamento da primeira pedra das novas construções, na qual é invariavelmente protagonista não o arquitecto mas os poderosos que o contratam e que têm o poder ou o dinheiro para construir. Na realidade o rei ou o faraó eram clientes, e sem dúvida que seria um autêntico arquitecto quem preparava as técnicas e desenhos de base para a construção, dentro de normas transmitidas no interior da profissão (quase sempre hereditariamente, numa contiguidade de conceitos entre profissão e família).”
Brandão, P. (2006). O arquitecto e outras imperfeições. Ética, identidade e prospectiva da profissão (p. 46). Lisboa: Livros Horizonte.
“Ao longo da sua história, a arquitectura conseguiu impor-se de forma relativamente impune no espaço público. Isto é, o campo arquitectónico não sentiu necessidade real de se confrontar com a recepção que ocorria no espaço público físico em relação à produção construída. A sua entrada na esfera pública e, particularmente, o acesso a uma esfera pública que assumia plenamente os seus mecanismos de produção de opinião, fez emergir uma realidade diferente.”
Gadanho, P. (2010). Arquitectura em público (p. 264). Porto: Dafne Editora.